A permanência de muitos vestígios da Roma antiga
em solo italiano jamais deixou de influir na plástica edificatória
local, seja na utilização de elementos estruturais ou materiais usados
pelos romanos, seja mantendo viva a memória das formas clássicas.[44] Mesmo assim, no Trecento o gótico
continua a linha dominante e o classicismo só viria a emergir com força
no século seguinte, em meio a um novo interesse pelas grandes
realizações do passado. Esse interesse foi estimulado pela redescoberta
de bibliografia clássica dada como perdida, como o De Architectura de Vitrúvio, encontrado na biblioteca do mosteiro de Monte Cassino em 1414 ou 1415. Nele o autor exaltava o círculo como forma perfeita, e elaborava sobre proporções ideais da edificação e da figura humana, e sobre simetria e relações da arquitetura
com o homem. Suas idéias seriam então desenvolvidas por outros
arquitetos, como o primeiro grande expoente do classicismo
arquitetônico, Filippo Brunelleschi, que tirou sua inspiração também das ruínas que estudara em Roma. Foi o primeiro a usar modernamente as ordens arquitetônicas de maneira coerente, instaurando um novo sistema de proporções baseado na escala humana.[45][46] Também se deve a ele o uso precursor da perspectiva
para representação ilusionística do espaço tridimensional em um plano
bidimensional, uma técnica que seria aprofundada enormemente nos séculos
vindouros e definiria todo o estilo da arte futura, inaugurando uma
fertilíssima associação entre a arte e a ciência. Leon Battista Alberti
é outro arquiteto de grande importância, considerado um perfeito
exemplo do "homem universal" renascentista, versátil em várias
especialidades. Foi o autor do tratado De re aedificatoria, que se tornaria canônico. Outros arquitetos, artistas e filósofos acrescentaram à discussão, como Luca Pacioli em seu De Divina Proportione, Leonardo com seus desenhos de igrejas centradas e Francesco di Giorgio com o Trattato di architettura, ingegneria e arte militare.
Dentre as características mais notáveis da arquitetura renascentista está a retomada do modelo centralizado de templo, desenhado sobre uma cruz grega e coroado por uma cúpula, espelhando a popularização de conceitos da cosmologia neoplatônica e com a inspiração concomitante de edifícios-relíquias como o Panteão de Roma. O primeiro desse gênero a ser edificado na Renascença foi talvez San Sebastiano, em Mântua,
obra de Alberti de 1460, mas deixado inconcluso. Este modelo tinha como
base uma escala mais humana, abandonando o intenso verticalismo das
igrejas góticas e tendo na cúpula o coroamento de uma composição que
primava pela inteligibilidade. Especialmente no que toca à estrutura e
técnicas construtivas da cúpula, grandes conquistas foram feitas no
Renascimento. Das mais importantes são a cúpula octogonal da Catedral de Florença, de Brunelleschi, que não usou andaimes apoiados no solo ou concreto na construção, e a da Basílica de São Pedro, em Roma, de Michelangelo, já do século XVI.[47]
No lado profano aristocratas como os Medici, os Strozzi, os Pazzi, asseguram seu status ordenando a construção de palácios de grande imponência e originalidade, como o Palácio Pitti (Brunelleschi), o Palazzo Medici Riccardi (Michelozzo), o Palazzo Rucellai (Alberti) e o Palazzo Strozzi (Maiano), todos transformando o mesmo modelo dos palácios medievais italianos, de corpo mais ou menos cúbico, pavimentos de alto pé-direito, estruturado em torno de um pátio interno, de fachada rústica e coroado por grande cornija, o que lhes confere um aspecto de solidez e invencibilidade. Formas mais puramente clássicas são exemplificadas na Vila Medici, de Giuliano da Sangallo. Variações interessantes deste modelo são encontradas em Veneza, dadas as características alagadas do terreno.[48]
Depois da figura principal de Donato Bramante
na Alta Renascença, trazendo o centro do interesse arquitetônico de
Florença para Roma, e sendo o autor de um dos edifícios sacros mais
modelares de sua geração, o Tempietto, encontramos o próprio Michelangelo, tido como o inventor da ordem colossal
e por algum tempo arquiteto das obras da Basílica de São Pedro.
Michelangelo, na visão dos seus próprios contemporâneos, foi o primeiro a
desafiar as regras até então consagradas da arquitetura classicista,
desenvolvendo um estilo pessoal, pois fora segundo Vasari
o primeiro a abrir-se para a verdadeira liberdade criativa. Ele
representa, então, o fim do "classicismo coletivo", bastante homogêneo
em suas soluções, e o início de uma fase de individualização e
multiplicação das linguagens arquitetônicas. Ele abriu caminho, pelo
imenso prestígio que desfrutava entre os seus, para que a nova geração
de criadores realizasse um sem-número de experimentações a partir do cânone
clássico de arquitetura, tornando esta arte independente dos antigos -
ainda que largamente devedora deles. Alguns dos mais notáveis nomes
desta época foram Della Porta, Sansovino, Palladio, Fontana, Peruzzi e Vignola. Entre as modificações que esse grupo introduziu estavam a flexibilização da estrutura do frontispício e a anulação das hierarquias das ordens antigas,
com grande liberdade para o emprego de soluções não ortodoxas e o
desenvolvimento do gosto por um jogo puramente plástico com as formas,
dando muito mais dinamismo aos espaços internos e às fachadas. De todos os derradeiros renascentistas Palladio foi o mais influente, e ainda hoje é o arquiteto mais estudado em todo o mundo. Foi criador de uma fértil escola, chamada Palladianismo, que perdurou, com altos e baixos, até o século XX.
Alberti: Fachada de Santa Maria Novella
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